sábado, 30 de outubro de 2010

Tire a máscara doutor!


- Aê senhô Dotô, posso vigiá seu carro?



- Meu filho vai ser dotô um dia!



- Senhor Doutor, Posso lhe fazer uma pergunta?



Ó senhor Doutor,

Douto juiz,

dotado de doutoramento,

doce dêitico

dado aos doentes

de dogmas,

perdoe-me a ignorância,

inocência,

indiferença,

indecência,

mas por favor

TIRE A MÁSCARA

OBTUSA!


Ó senhor superioridade!

seriedade,

sublime ser!

bacharelado,

licenciatura,

mestrado

não se comparam

a você

A hierarquia sempre

vivente

crescente

doente

carente

de mais titulação

com ardor,

Ó como é bom

o som

DOUTOR


Ó sábia sabedoria divina!
solitária,
masculina,

inquestionável,

de tudo sabe um pouco

sabe de compêndios, gramáticas,

projetos de lei, alvarás,

sabe até fritar ovo!


Ó sim, sim, sim

Senhor doutor

Dotô juiz,

Sim senhor Doutor

Senhor Doutor

Doutor

Douto

Dou

Do

Do

(PH)D



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Conquista amorosa




Flerte, azaração, xaveco, paquera, investida, cantada...
Desde o início do início dos tempos sempre houve
a hora melindrosa da conquista amorosa,
na qual é valioso tudo o que se diz e ouve.

Porém esse momento pode ser bem diferente
dependendo de seu tempo, lugar e espaço.
Exemplo: nosso antepassado homo sapiens sem dente
martelava a cabeça da amada no lugar de flores e laço.

Para os biólogos, a cantada é de "classe":
anatômica, orgânica, animal, alimentar...
- Vamos perpetuar a espécie?
- Claro! Por qual célula elementar?

Para os astrônomos, a cantada é um lapso.
Assim como o big-bang, ele fala a primeira coisa que vem à cabeça.
- Sabia que você é o centro do meu universo?
- Sabia que não é em torno do seu umbigo que a Terra gira?

Para os filósofos, a cantada é supra-sensível.
Ele se enamora facilmente e se desespera.
- O meu amor por você é platônico!
- Se liga! Você ainda não saiu da caverna!

Para quem faz Letras, as cantadas são eruditas.
Elas vêm acompanhadas de teorização máxima.
- Por você eu percorro um Sertão Veredas, eu componho um Lusíadas!
- Sério!? Sob qual paradigma?

Para nossos avós, o xaveco era a moda.
Muito delicado e formal, cordial e polido:
- Vóis sois bela tal qual uma petúnia.
- Rapaz, és muito atrevido!

Para nossos pais, o "da hora" era a paquera,
despojados e sucintos, lá eles estavam cortejando.
- Posso te falar uma coisa? Acho você muito linda!
- Ai, pára! Meu irmão tá olhando....

Hoje, o que se vê é azaração na balada!?
Eras de pós-conquista, épocas de "pegar geral"...
- Gatinha, tu é a mina mais cachorra da balada!
- Demorô, vamo sapecá geral!


Dicionário Orélho (1)


Abel: primeiro a demonstrar a importância do uso do capacete

Adão: primeiro trouxa

Amante: acréscimo de zeros no boleto e retrocesso de zeros na conta

Bob Esponja (1): desenho tão suspeito como Victor Fasano

Bob Esponja (2): bêbado, ébrio, cachaceiro, bebum, sommelier falido

Brinquedo: para crianças distração, para adultos diversão

Coca –cola: prazer gelado para viver menos

Calouro: indivíduo que tem o amor da família e o ódio dos veteranos

Carmem Miranda: traveco de projeção internacional

Dicotomia: intelectual de via dupla

Eva: primeira esfomeada

Ema: animal idiota com nome idiota e cara idiota

Filho: trabalhador não assalariado e provedor da calvície precoce

Luiz Inácio da Silva: porteiro lá de casa

Mendigo: indivíduo que nos faz sentir a pura filantropia após esmolas dadas

Noé: primeiro membro do Greenpeace

Nega maluca (1): bolo solado que a dona de casa chapa de Nescau para desfarçar o erro

Nega maluca (2): mulher negra com distúrbios psicológicos

Pombo: mendigo que esqueceu-se de morrer

Ronaldinho (1): jogador de futebol obeso ou dentuço

Ronaldinho (2): cabeleireiro homossexual

Ronaldinho (3): pivete da Praça XI

Serpente: primeira sogra

Televisão: controle de natalidade para pobres

Vestibulando: indivíduo que põe a culpa no Vestibular para ter o dó da família

Viagra: é como a inveja, quem faz uso nunca assume

Zebra: animal que sempre simboliza desgraças e apostas perdidas



soares

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Adolescente em crise ou vida de Patty





Creuza sonhava em ter uma vida de Patricinha.
Queria ser popular, estar na moda, queria ser querida,
Pintou as unhas de rosa choque, alisou o cabelo com Guanidina.
Comprou um óculos Rayban no camelô, se achou linda.

Creuza passou a assistir ao "Esquadrão da Moda"e
a passar rímel, blush, batom, base, pancake, pó-de-arroz,
sombra, lápis de olhos, delineador de boca, a fazer sobrancelha,
brilho labial, tudo isso para ir à escola depois.

Para entrar para a "galera", vale tudo como na guerra,
Creuza tinha que estar na net, ficar in, on, hype.
Ficou viciada em orkut, colheita feliz, mini fazenda,
twitter, msn, facebook, last.fm, hifive, flickr, jaiku, skype.

- Oi, td bem? blz? tem papelão? tem vaquinha?
Tô bem e vc? /o/ bizarru...
More tiamu miguxa
Vc viu q boy fofo!!
miga tipoassim tô passada!!! ;)

Era tudo o que a menina agora falava.
Ensinava-se que pattys odeiam papo-cabeça,
que patty é fifi, solid, princesinha, lolita, cheia de marra,
interesseira, delicadinha, ou seja, uma débil mental, incapaz e burra.

Creuza se sentiu "a" poderosa, filhinha da mamãe,
todos a chamavam para a balada, altas horas da madrugada,
ela ia feliz pensando que estava "bafando", não queria estar out.
Até pintou o cabelo de louro para imitar a Lady Gaga.

Achava que era um must ser igual a Paris Hilton
que não precisava trabalhar, era socialite e devassa.
Só não conseguia perceber toda essa futilidade em vão,
e como era ridícula a saia minúscula que ela usava.

Na sua pseudofelicidade pueril, a triste menina
ficou anoréxica de tanto ver seriado americano.
Em sua jovem cabeça tanto drama, tanta mentira,
queria ser Hanna Montana, queria ser capa da Capricho.

A mãe já estava preocupada pois a filha estava mudada,
antigamente tão fechada, agora só anda de rosa e salto agulha,
não vai bem na escola e gosta de NX Zero e Restart...
Ao ser indagada, a menina, sincera, afirma:
- mãe já fui emo, agora sou patty.




Beleza sempre põe mesa


Nas negativas femininas há quem veja esperanças

De um não quase agressivo transformar-se em alianças


“Quando uma dama me diz não

Ela está querendo um beijo e um agarrão.”


Assim era a sina de Aristeu, galante que só

Abençoado com a feiúra dos deuses, aberração, dava dó

Achava-se forte, maravilhoso, o melhor, Popó

Naquela vida um entrelaço, o ridículo e o feio dando nó


Calça roxa, blusa verde quadriculada

Sapato vermelho, meia meio amarelada

Leite de rosas, alfazema vencida

No cabelo, brilhantina. Gravata colorida

Inimigo da moda e de grandes estilistas

Antítese de Narciso, coisa triste às vistas


“To lindo demais, ninguém me resiste”

Aristeu é brasileiro, nunca desiste


“Hei de arrumar uma tetéia”

“Hoje dou em cima da Cristina, amanhã da Léia”


Quem gostava do Aristeu era Verônica, menina boa

Ele a desprezava, atravessava a rua quando a via, fingia de nada saber

“Sou lindo demais pra beijar uma zarolha, ridícula caolha”

Negava que o desprezassem, convencia-se de que era belo e sozinho estava por querer


“Quando uma dama me diz não

Ela está querendo um beijo e um agarrão.”



soares

Homem-Bomba


Mania de adolescente, ser forte, ser Sansão

Olha só aquele nerd, olha o gordo-obeso

Só série de bíceps, não malho perna não

To rasgando, maromba, fleca, aumenta o peso


De tanto peso que pegou

Das bombas que tomou

Dos refrigerantes que evitou

Nem viu, o cérebro atrofiou


Tudo era pretexto para tirar a camisa

Contrair os braços, igual bicho de zoo, pura exibição

As pernas de grilo, dois gravetos, muito finas

Um rim podre, um fígado escangalhado, um caixão


E a bomba explodiu, lá se foi o bom rapaz

Coitado, tão bonito, tão forte, tão novinho

Que desolação quando lá na cova que se jaz

se descobre que na morte, todo mundo é bem magrinho


soares


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ode ao milho 3: O confronto final no milharal


E a saga continua... e o milho Aldo ainda está na luta,
agora cor de marrom-apodrecido feito gruta
parece até que pegou o ônibus cala-boca
e foi parar lá em Itaoca.

O milho Aldo tentou, em vão, passear pela cidade,
foi perseguido pelos cachorros da faculdade.
Descobriu que paraíso não fica perto da FFP,
daí foi parar em Neves perto da DP.

Ali também não foi bem recebido,
tinha uns cabras mal reconhecidos
e só de birra foi para o Jardim Alcântara,
sonhando com paz, sem virar janta.

Chegando lá tal foi sua surpresa
havia muitas pessoas e uma enorme feira,
o milho Aldo ficou feliz, pensou:
talvez eu ache aqui quem me criou.

Quando de repente um mendigo,
que com o papai-noel era muito parecido
levantou sedento pelo milho.
Correndo, ele pensou: estou perdido.

Desesperado, começou a soltar pedaço
por todo o lado, sua vida em caco.
Uma irmã vendo a triste cena
do pobre milho teve muita pena.

Levou o coitado para receber oração,
ao chegar foi confundido com refeição,
saiu às pressas com medo da decisão,
ele estava perplexo com tamanha confusão.

Decidiu então ir para o Galo Branco
pois se tem galo também deve ter galinha,
cansado como estava sentou-se num banco,
o milho Aldo adormeceu deitado na pracinha.

Mal sabia ele que era época de eleição...
Ao acordar assustado, levou um empurrão.
Ao som de um funk alto o milho Aldo foi pisoteado,
nunca mais se ouviu falar dele desde então...









Ode ao milho 2




Pegando carona no sabugo alheio

Rabugento, sem inspiração, o plágio odeio

Mas fazer o quê? Se meu cérebro queimado está igual centeio?

Da precoce esquizofrenia atualmente eu sempre me receio


Mas deixo uma idéia, ideal eterno e sagaz

A milharina na minha cabeça não se compara ao fugaz

Sabugo anoréxico esculachado, igual à Carolina Ferraz

E à Marina Silva, hoje, solteira mais cobiçada, atual ananás


Na espiga definhada ou no milhão do Silvio Santos

Na Dilma oscilante e nos esbugalhos oculares de certos tucanos

Ficou o sabugo do Plínio, tão simpático, em outros planos

É a pipa senil que não sobe, nem com a catuaba dos hermanos


soares

Ode ao milho


E quando o mundo,

as crenças, as pessoas,

viram-me as costas,

ao meu consolo vem

o milho.

Que me oferece,

generoso,

os seus gomos,

seus restos mortais,

dos quais eu não hesito

Em dilacerar as entranhas,

Com ânsia voraz.

E nele, em sua nua forma,

que agora desponta,

ficam impressas minhas angústias.

E arrancando-lhe

a última energia,

sugo-lhe o sulco precioso,

com orgulho mesquinho.

Até que, cansada,

embrulho-o com respeito cerimonial

e deito-o, na lixeira, sua humilde e indigna alcova

onde, para sempre, irá descansar.

A miséria glob(o)alizada




Quando você tem um pouco menos
que nada,
miséria é salada
na boca de político.

Quando você tem apenas o farrapo do corpo
e os pés duros sobre o chão.
Miséria é política,
na televisão.

Quando você tem um chão frio e sujo
como cama.
Miséria é projeto do projeto de lei,
lá na câmara.

Quando você tem fome, frio e um furúnculo
encravado na bunda.
Miséria é comercial
do criança esperança.
Miséria é campanha eleitoral
do Lula.

Quando você trabalha de segunda a sábado
de manhã até a noite.
Miséria é não morar em Copacabana
na novela bacana do Manoel Carlos.

Quando você pensa que de sonhar não é capaz,
Miséria é propaganda
da Petrobrás.

""Pipoca""




Olha lá, ele, pipoqueiro calado
"Pode escolher, doce ou salgada"
Cara sisuda, bolso endinheirado
Cara carrancuda, cara-psicopata

Quem nunca ousou temer nos filmes o pipoqueiro?
É ele malandro, é ele altaneiro
Amigo dos mendigos, crianças e pombos primeiro

Ele, terror dos milharais, via abuso no terreiro
Jogavam lá as pipocas no chão. “Que vício bagunceiro”
“Hei um dia de socar goela abaixo esse desperdício sorrateiro”

Chamado de tio por sobrinhos marmanjos e barbados
“Matarei um dia esses muleques abusados”
Condensado para diabéticos, sal para hipertensos acabados.

Um corpo encontrado no campus, quem é o culpado?
Acharam sangue na panela do pipoqueiro, foi acusado
Na prisão era só ploc ploc. “Põe bacon ou granulado?



 Soares