sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O NATAL


Tempo de paz, amor e gastar
comer, sorrir e sonhar
o sonho idílico comprar
"baratinho" no Shopping Boulevard

Ó Natal, sonhada data comercial,
dai-nos vendas e bastante capital.
E o seu próprio sentido perdido
entre as roupas caras do meu C&A querido.

A árvore com bastante presente
que coisa mais linda e decente...
Papai Noel já vem, sei lá de onde,
deve ser da Disney ou da terra do Conde.

Engraçado, o bom velhinho visita muita gente boa:
os senadores, os banqueiros, os vereadores com uma conta bem gorda.
Porém ele usa vermelho (será que é comunista?),
vamos mudar a cor de seu uniforme para verde-capitalista.

Ó Natal, sonhada data comercial,
dai-nos vendas e bastante capital.
Vou gastar meu décimo terceiro, quem diria,
minha cidadania é meu crediário nas Casas Bahia.

Ó que tempo bonito, todo mundo fica um pouco melhor.
É tempo de perdoar: o amigo é mais amigo, esquece-se o que há de pior.
Inclusive o rombo que a prefeita fez no orçamento da prefeitura,
uma brandura, candura, doçura, presença única.

É melhor que época de copa do mundo, é tempo de paz,
cumprimenta-se e fala-se mal por de trás.
Todo mundo é bonzinho, menos o bandido do morro do Alemão
que a Globo me disse que tem que ir pro Caveirão.

Ó Natal, sonhada data comercial,
dai-nos vendas e bastante capital.
E que em 2011 eu me torne um ser humano melhor, ou seja,
pague as dívidas, compre um carro e muita cerveja!


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Porteiro


-Mas doutô eu num vi nada!

-Viu sim, aquela maldita estava com o amante!

-Eu num sei de nada, num sô observante.

-Quanto ela te deu para ficar de boca fechada?


-Ela quem doutô? Sô um hômi simplório.

-Minha esposa, aquela safada.

-Num fala assim da coitada.

-Defendeste ela? Tu tem culpa no cartório!


-Culpa quem doutô? Sô inocente.

-Isso só diz quem se defende.

-Mas se num mi defendo o doutô mi prende.

-Te prendo por quê? Abra o bico, servente!


-Doutô, num sei de nada, já disse.

-Não creio em você, estás a me enganar.

-Doutô, a galhada é sua, nada tenho a declarar.

-Galhada? Que galhada? Explique-se!


-Desgraçada! Me chifrou com todo mundo.

-Doutô, corno todo mundo é, basta ter muié.

-Ai meu Deus, então ela me traiu? Com qual vagabundo?

-Doutô, péra lá, eu não sou vagabundo, pega leve né....



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mulher do século XXI !?


Tenho que ser feliz,
saudável, da moda.
Vou ser amada, querida,
ter toda a admiração.

Tenho que ser um avião,
um mulherão, "a" gatinha.
Vou fazer catarse
na esteira da academia.

Tenho que ser inteligente,
disciplinada, paciente.
Vou cuidar para que
meu filho não fique doente.

Tenho que ser loura de cabelo liso,
Victoria Secret, estilosa, badalada.
Vou fazer escova inteligente, definitiva, progressiva,
marroquina, japonesa, árabe, americana,
de chocolate, de morango, de açúcar, cristalizada,
e de outras nacionalidades e sabores...

Tenho que ser boa profissional,
objetiva, instrutora, operacional.
Vou trabalhar, trabalhar, trabalhar,
para pagar as contas no final da semana.

Tenho que ser excelente mãe,
ótima esposa, tchutchuca e "boa de cama".
Vou colocar piercing, silicone, botox,
tomar rivotril, diazepam e dipirona.


sábado, 6 de novembro de 2010

Cocota



Cumé qui é vacilão

Num sô mulé de bobêra

Sô gramurosa, sô partidão

Sô castelão a noite inteira


Cadiquê sô filezona do pedaço?

Purquê os preibói fica na minha

andu di moto suzuqui e carro só Picasso

sô cachorra sô gatinha


Sô purpurinada, sô tudo de bom

Desce e sobe, de ladinho

Só dá eu na Furacão

Sô da gaiola, sô do bonde do vinho



ps.: em homenagem aos funkeiros que se satisfazem fazendo catarse ao som dos pancadões

Dona Augusta


Dona Augusta odiava-se

Por ter nome de rua famosa

Contorcia-se, castigava-se

Motivo de chacota, piada maldosa


Quis morrer, fustigava-se, flagelava-se

Quando a chamavam de mimosa

“É tudo nome de rua!” – dizia-se.

Dona Augusta deprimia-se, andava sempre desgostosa


Um dia, no alto do morro barrento

Dona Augusta resolveu o seu tormento

Exibiu nova certidão de nascimento

“Meu nome agora é Salomé, seus jumento!”


Coitada de Dona Augusta, agora Salomé

“Exegese e hermenêutica? Não sei o que é!”

O povo do morro, irônico e sarcástico, continua a pegar-lhe no pé

"Olha lá Augusta Salomé, nome de rua, dançarina de cabaré!”

sábado, 30 de outubro de 2010

Tire a máscara doutor!


- Aê senhô Dotô, posso vigiá seu carro?



- Meu filho vai ser dotô um dia!



- Senhor Doutor, Posso lhe fazer uma pergunta?



Ó senhor Doutor,

Douto juiz,

dotado de doutoramento,

doce dêitico

dado aos doentes

de dogmas,

perdoe-me a ignorância,

inocência,

indiferença,

indecência,

mas por favor

TIRE A MÁSCARA

OBTUSA!


Ó senhor superioridade!

seriedade,

sublime ser!

bacharelado,

licenciatura,

mestrado

não se comparam

a você

A hierarquia sempre

vivente

crescente

doente

carente

de mais titulação

com ardor,

Ó como é bom

o som

DOUTOR


Ó sábia sabedoria divina!
solitária,
masculina,

inquestionável,

de tudo sabe um pouco

sabe de compêndios, gramáticas,

projetos de lei, alvarás,

sabe até fritar ovo!


Ó sim, sim, sim

Senhor doutor

Dotô juiz,

Sim senhor Doutor

Senhor Doutor

Doutor

Douto

Dou

Do

Do

(PH)D



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Conquista amorosa




Flerte, azaração, xaveco, paquera, investida, cantada...
Desde o início do início dos tempos sempre houve
a hora melindrosa da conquista amorosa,
na qual é valioso tudo o que se diz e ouve.

Porém esse momento pode ser bem diferente
dependendo de seu tempo, lugar e espaço.
Exemplo: nosso antepassado homo sapiens sem dente
martelava a cabeça da amada no lugar de flores e laço.

Para os biólogos, a cantada é de "classe":
anatômica, orgânica, animal, alimentar...
- Vamos perpetuar a espécie?
- Claro! Por qual célula elementar?

Para os astrônomos, a cantada é um lapso.
Assim como o big-bang, ele fala a primeira coisa que vem à cabeça.
- Sabia que você é o centro do meu universo?
- Sabia que não é em torno do seu umbigo que a Terra gira?

Para os filósofos, a cantada é supra-sensível.
Ele se enamora facilmente e se desespera.
- O meu amor por você é platônico!
- Se liga! Você ainda não saiu da caverna!

Para quem faz Letras, as cantadas são eruditas.
Elas vêm acompanhadas de teorização máxima.
- Por você eu percorro um Sertão Veredas, eu componho um Lusíadas!
- Sério!? Sob qual paradigma?

Para nossos avós, o xaveco era a moda.
Muito delicado e formal, cordial e polido:
- Vóis sois bela tal qual uma petúnia.
- Rapaz, és muito atrevido!

Para nossos pais, o "da hora" era a paquera,
despojados e sucintos, lá eles estavam cortejando.
- Posso te falar uma coisa? Acho você muito linda!
- Ai, pára! Meu irmão tá olhando....

Hoje, o que se vê é azaração na balada!?
Eras de pós-conquista, épocas de "pegar geral"...
- Gatinha, tu é a mina mais cachorra da balada!
- Demorô, vamo sapecá geral!


Dicionário Orélho (1)


Abel: primeiro a demonstrar a importância do uso do capacete

Adão: primeiro trouxa

Amante: acréscimo de zeros no boleto e retrocesso de zeros na conta

Bob Esponja (1): desenho tão suspeito como Victor Fasano

Bob Esponja (2): bêbado, ébrio, cachaceiro, bebum, sommelier falido

Brinquedo: para crianças distração, para adultos diversão

Coca –cola: prazer gelado para viver menos

Calouro: indivíduo que tem o amor da família e o ódio dos veteranos

Carmem Miranda: traveco de projeção internacional

Dicotomia: intelectual de via dupla

Eva: primeira esfomeada

Ema: animal idiota com nome idiota e cara idiota

Filho: trabalhador não assalariado e provedor da calvície precoce

Luiz Inácio da Silva: porteiro lá de casa

Mendigo: indivíduo que nos faz sentir a pura filantropia após esmolas dadas

Noé: primeiro membro do Greenpeace

Nega maluca (1): bolo solado que a dona de casa chapa de Nescau para desfarçar o erro

Nega maluca (2): mulher negra com distúrbios psicológicos

Pombo: mendigo que esqueceu-se de morrer

Ronaldinho (1): jogador de futebol obeso ou dentuço

Ronaldinho (2): cabeleireiro homossexual

Ronaldinho (3): pivete da Praça XI

Serpente: primeira sogra

Televisão: controle de natalidade para pobres

Vestibulando: indivíduo que põe a culpa no Vestibular para ter o dó da família

Viagra: é como a inveja, quem faz uso nunca assume

Zebra: animal que sempre simboliza desgraças e apostas perdidas



soares

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Adolescente em crise ou vida de Patty





Creuza sonhava em ter uma vida de Patricinha.
Queria ser popular, estar na moda, queria ser querida,
Pintou as unhas de rosa choque, alisou o cabelo com Guanidina.
Comprou um óculos Rayban no camelô, se achou linda.

Creuza passou a assistir ao "Esquadrão da Moda"e
a passar rímel, blush, batom, base, pancake, pó-de-arroz,
sombra, lápis de olhos, delineador de boca, a fazer sobrancelha,
brilho labial, tudo isso para ir à escola depois.

Para entrar para a "galera", vale tudo como na guerra,
Creuza tinha que estar na net, ficar in, on, hype.
Ficou viciada em orkut, colheita feliz, mini fazenda,
twitter, msn, facebook, last.fm, hifive, flickr, jaiku, skype.

- Oi, td bem? blz? tem papelão? tem vaquinha?
Tô bem e vc? /o/ bizarru...
More tiamu miguxa
Vc viu q boy fofo!!
miga tipoassim tô passada!!! ;)

Era tudo o que a menina agora falava.
Ensinava-se que pattys odeiam papo-cabeça,
que patty é fifi, solid, princesinha, lolita, cheia de marra,
interesseira, delicadinha, ou seja, uma débil mental, incapaz e burra.

Creuza se sentiu "a" poderosa, filhinha da mamãe,
todos a chamavam para a balada, altas horas da madrugada,
ela ia feliz pensando que estava "bafando", não queria estar out.
Até pintou o cabelo de louro para imitar a Lady Gaga.

Achava que era um must ser igual a Paris Hilton
que não precisava trabalhar, era socialite e devassa.
Só não conseguia perceber toda essa futilidade em vão,
e como era ridícula a saia minúscula que ela usava.

Na sua pseudofelicidade pueril, a triste menina
ficou anoréxica de tanto ver seriado americano.
Em sua jovem cabeça tanto drama, tanta mentira,
queria ser Hanna Montana, queria ser capa da Capricho.

A mãe já estava preocupada pois a filha estava mudada,
antigamente tão fechada, agora só anda de rosa e salto agulha,
não vai bem na escola e gosta de NX Zero e Restart...
Ao ser indagada, a menina, sincera, afirma:
- mãe já fui emo, agora sou patty.




Beleza sempre põe mesa


Nas negativas femininas há quem veja esperanças

De um não quase agressivo transformar-se em alianças


“Quando uma dama me diz não

Ela está querendo um beijo e um agarrão.”


Assim era a sina de Aristeu, galante que só

Abençoado com a feiúra dos deuses, aberração, dava dó

Achava-se forte, maravilhoso, o melhor, Popó

Naquela vida um entrelaço, o ridículo e o feio dando nó


Calça roxa, blusa verde quadriculada

Sapato vermelho, meia meio amarelada

Leite de rosas, alfazema vencida

No cabelo, brilhantina. Gravata colorida

Inimigo da moda e de grandes estilistas

Antítese de Narciso, coisa triste às vistas


“To lindo demais, ninguém me resiste”

Aristeu é brasileiro, nunca desiste


“Hei de arrumar uma tetéia”

“Hoje dou em cima da Cristina, amanhã da Léia”


Quem gostava do Aristeu era Verônica, menina boa

Ele a desprezava, atravessava a rua quando a via, fingia de nada saber

“Sou lindo demais pra beijar uma zarolha, ridícula caolha”

Negava que o desprezassem, convencia-se de que era belo e sozinho estava por querer


“Quando uma dama me diz não

Ela está querendo um beijo e um agarrão.”



soares