sábado, 28 de julho de 2012

Felicidade




Com o corpo do marido esparramado no caixão
Percebeu ela que havia chegado a tal libertação...
Nunca deixou o marido que a esposa fosse feliz
Realizaria agora o lindo desejo que sempre quis




Na noite sombria e crua,
no céu uma grande Lua.
Vai lá vai Dona Jandira
Peladinha, peladinha pela rua.


Antes era "mulher de respeito"
Agora era liberta e viúva
Vejam como balançam os seios!
Peladinha, peladinha pela rua.


Carne solta, senil e crua
Vai lá vai Dona Jandira
A vida vai e continua
Na avenida fria ela está nua
Peladinha, peladinha pela rua




Soares



(dedico aos que ainda estão presos)

domingo, 24 de junho de 2012

Amizade




dizem que amizade
é o concordar de ideias
o despertar de azaleias
a contemplação efusiva da imagética



palácio lindo, cheio de borboletas,
onde vivem sabiás que fazem graças e gracetas



Aaaah, mas diferente de todos eu respondo e encaixo
na fuça, na lata, digo e escracho
no colóquio reverbero e logo despacho
sobre tudo o que penso, sobre tudo o que acho



Amizade pra mim é igual cú
esfíncter, fiofó, muito embora
pode ser limpo ou sujo para alguns
mas é o que nos ajuda a por as merdas pra fora



Soares

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

RJ, São Gonçalo, 21 de Fevereiro de 2012

CARTA DE CARNAVAL



Caro coração apaixonado,


Fogos. Festa. Fantasia. Farra. Forra. Folia. Fetiche. Fuleiro. Fátima Bernardes na televisão.
E afinal para que Carnaval? Carnaval, para quê? Descanso e enquanto os outros bebem, eu canto. Quem? Carmem Miranda. Mário Lago. Outrora foram a diversão, hoje é só funk até o chão.
E daí se eu não gosto de Carnaval? Que graça tem? Curtição, pegação, zoação, bebeção...
para que tanto ção meu Deus? Perguntam os meus olhos, meu coração não pergunta nada.

Enquanto eu me desfaço em pensamentos vejo um casal de namorados tão enamorados
que mal sabiam o que era Carnaval, ou que era Amor? Torpor enganador delator dolor...
E Carnaval é lá festa santa? Festa, é festa? Comemoração, de quê? Um brinde aos mascarados
gringos mal-encarados: Brazil, terra onde tudo é permitido até turista infrator aliciador de menores.

Pierrot apaixonado pela Colombina! E a Colombina é apaixonada por alguém?
João gostava de Maria que gostava de Pedro que gostava de Antônio que gostava de Letícia
que gostava de Amanda que gostava de Paulo que gostava da bunda da vizinha vestida de neném. No fundo ninguém gostava de ninguém...
Mas é Carnaval, época de grandes elogios às mulheres à la Michel Teló: Delícia, delícia,
assim você me mata... Mulher já foi cachorra, tchutchuca, gatinha, agora é delícia para qualquer um pegar mais barato que pão de padaria... o engraçado é que é tudo engraçado...

Quatro dias inteirinhos dedicados à livre expressão da alegria, da camisinha!?
Feriado em homenagem ao esplendor da criatividade popular!?
Escola de samba, samba, samba, samba malandro para não ser assaltado!!!
Ai se você fosse honesta ô ô ô ô Aurora não pegava dez de uma vez só na mesma hora...

Ai coração é pedir muito um pouco de romantismo, de cerimônia,

Sua (quase)
Colombina.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Plástico





Com meus lábios inflei meu amor
Musa volúvel de braços abertos
Senti prazer, ela, torpor
Cópula barulhenta de risos cobertos


Usei preservativo, ela não pois era de plástico
Preliminares gritantes como o encher de bexigas
Não mordi-a para não estourá-la. Fui estático
Certo estou que farei sucesso com suas amigas


Gritei, ela também (acho), profunda alegria
Satisfeita ela está, disso sei
Gozei mas não a lavei
Acho que engravidei-a, picardia.




soares

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Do pó vieste, ao pó retornarás....




Com 57 anos não sabia o que era beijo,
nem jantar, nem merlot, fondue ou queijo

Preferia as novelas, as tramas impossíveis
amores melancólicos, mocinhas tão incríveis


Mas o destino, gozador cruel, nada cortês
Pregou-lhe uma peça, troça do seguinte jaez:

Adalmiro apaixonou-se como nunca se viu
pela voz que ao telefone ouviu!


Só havia um infeliz impasse: a tal voz telefônica
Sedutora e rouca, era de uma secretária eletrônica...


Marcaram um encontro, ela, claro, não apareceu, nem deixou recado
"Hoje o Adalmiro perde o lacre enferrujado!" Disse o povo debochado


"Você marcou e num apareceu. Isso é deprimente!"
"Espere na linha e fale com um atendente."



Então, Adalmiro deu a volta por cima. "Pensaram que eu tava na pió?"
Hoje ele tem dois filhos lindos, fruto do casório com seu aspirador de pó.




soares

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Fabulosa História de Catarina




Lá estava Catarina à espera da Dona Menarca
ansiosa, debatia os pés, tadinha
Por culpa do Aluisio de Azevedo, patriarca
deram-na a jocosa alcunha de Pombinha


Fez promessa, plantou bananeira
ainda assim nada escorria.
Pai de Santo, Reza Braba, Curandeira
"Ai que desespero, ai que agonia!"


Lhe disseram que o problema tinha cura
dentro de uma tal Universal
e lá foi ela ungir a "dita cuja"
num insosso e fervoroso ritual


Desistiu depois de muito, "Ai que mundo cético!"
"Pois bem, mesmo assim a vida continua!"
Catarina resolveu ouvir a voz do seu médico:
"Queridinha, traveco não menstrua!"




soares



para Chaianne Fidelis


sábado, 14 de janeiro de 2012

Alta Gastronomia




Aurora ouviu calada
os desejos de Manoel
que revelou à esposa amada
um fetiche que o levaria ao céu


Não era assim tão natural
o desejo daquele homem fiel
esqueceu o dogma habitual
e anunciou o anseio menestrel


-Nunca fui homem galinha
Nunca frequentei bordel
Aurora, o que quero nessa vida
é comer frango num Motel


O silêncio da esposa fria
lhe caiu como um suplício pesado
só queria realizar a excitante fantasia
de exoticamente comer um frango assado


-Tanto lugar pra comer
e tu escolhe um Motel?
Que desejo de doer!
Que fetiche mais cruel!


Decidiram por desistir
Manoel então baixou a guarda
mas, escondido, fantasia pra si
de ir na V.M. comer feijoada



(soares)



foto: Dona Aurora e Seu Manoel na época da puberdade...